“Há alguns anos, Ken Wilber incluiu em seu trabalho o modelo criado pelo também americano Clare Graves – a 'Dinâmica da Espiral'. Poderosa ferramenta que define de forma simples e ao mesmo tempo profunda os vários níveis de Consciência de um indivíduo ou grupo, a Espiral se integrou ao 'Modelo dos 4 Quadrantes' de Wilber no que foi chamado TQTNTodos os Quadrantes, Todos os Níveis - talvez a ferramenta mais completa para a compreensão do composto físico/mente/cultura/sociedade.

O modelo da Dinâmica da Espiral (Sistemas de Valor ou Níveis de Consciência) é como uma lente que nos faz enxergar a realidade mais nítida.

Quatro conceitos são fundamentais:

1- as pessoas são diferentes porque possuem valores diferentes (enxergam a realidade utilizando lentes diferentes);

2- desentendimentos podem surgir quando diferentes valores entram em conflito (se um indivíduo é míope, pode achar que todos enxergam como ele e assim não entender que também existam pessoas que sofrem de astigmatismo);

3- não existe valor (nível de consciência) melhor que o outro mas alguns são mais complexos que outros;

4- um indivíduo ou grupo pode manifestar seu valor predominante: a) de forma saudável ou b) de forma patológica.

A DINÂMICA DA ESPIRAL

O modelo da Dinâmica da Espiral é como um conjunto de lentes que você pode utilizar para enxergar a realidade. Cada lente é um valor que o indivíduo ou grupo utiliza para interpretar e interagir com a realidade. Cores foram atribuídas a cada nível de consciência no sentido de facilitar a compreensão de cada nível de consciência. Os principais níveis são:

BEGE – básico-instintivo: o primeiro nível de consciência surgiu há 100.000 mil anos quando o ser humano era nômade. Sua vida era solitária, seguia os instintos em busca de alimento e segurança. Às vezes acasalavam. No máximo, viviam em bandos. A “preocupação” essencial era sobreviver.

Hoje em dia, viver para sobreviver é algo inerente a crianças recém-nascidas, idosos senis, mendigos, moradores de rua e massas esfomeadas. Todos possuem, como objetivo específico, a sobrevivência.

PÚRPURA – mágico-místico: há 50.000 anos, os seres humanos passaram a viver em grupos (tribos). Aprenderam a dividir suas tarefas e a valorizar as “relações de sangue”. Diante um mundo “mágico e assustador”, eram temerosos em relação ao destino que os “Deuses” lhes reservavam. Fiéis aos mais velhos, aos ancestrais e ao clã, preservavam objetos, lugares sagrados e cumpriam os ritos, ciclos e costumes tribais.

Nos dias atuais este é o mesmo estilo de valor que guia o pensamento das famílias tradicionais, pessoas que acreditam em simpatias, soluções mágicas, juramentos de sangue, amuletos e figuras mitológicas. O princípio do estilo púrpura guia a essência das gangues, grupos fechados e “tribos” modernas – se proteger através dos rituais e das tradições do clã.

VERMELHO – poderoso-impulsivo: há 10.000 anos, o indivíduo se “rebelou”. Cansado de obedecer às ordens e costumes da tribo, tornou-se egoísta e individualista. Lutar para sobreviver independentemente do que os outros queriam era o seu ímpeto. Impor o poder sobre o eu, os outros e a natureza, fazer o que se quer eram as suas leis. No estilo vermelho, o indivíduo deseja atenção, exige respeito e dita as regras. Certo de que o mundo é uma selva cheia de ameaças e predadores, conquista, engana e domina os outros sem qualquer culpa ou remorso.

Este é o estilo dos bandidos, pessoas desonestas, políticos corruptos e atitudes egoístas. Certo de que a vida precisa lhe dar prazer sem limites, o individualista impõe de forma implacável ao mundo e aos outros o seu DOMÍNIO E PODER.

AZUL – a força da verdade: há 5.000 anos, surgiu um nível de consciência baseado em uma crença absoluta que levava o indivíduo a sacrificar-se a uma causa, verdade ou caminho virtuoso que considerava de elevada importância. Certo da existência de uma “ordem superior”, o indivíduo aceitava se submeter a um código de conduta que acreditava se basear em princípios eternos e absolutos. Qualquer impulso ou visão inadequada deveriam ser controlados através da culpa. Obedecendo com rigor autoridade superior, o indivíduo “azul” seguia as leis, métodos e disciplinas que acreditava construir o caráter e os valores morais.

Religiões, as forças armadas, o sistema judiciário, associações do tipo “Rotary”, o fundamentalismo islâmico, os procedimentos rígidos definidos em manuais de empresas valorizam essencialmente o SIGNIFICADO e a ORDEM ABSOLUTA.

LARANJA – autonomia e manipulação: há 1.000 anos, empreender tornou-se fundamental. A preocupação em tornar as coisas melhores, em agir por interesse pessoal jogando para ganhar, a mudança, o avanço, o progresso e a vida abundante passaram a ser os valores essenciais para quem avançou a este nível de consciência que define que pessoas otimistas, autoconfiantes e dispostas a arriscar merecem o sucesso. Prosperar pela estratégia, desenvolvimento da tecnologia e competitividade eram as palavras de ordem.

Atualmente o mundo corporativo, o mercado financeiro, as novas tecnologias, o pensamento capitalista e a classe média emergente definem o que podemos chamar de EU EMPREENDEDOR.

VERDE – igualdade e comunidade: há 150 anos, surge um novo tipo de pensamento que valoriza, fundamentalmente, o vínculo humano. Para este estilo, o bem-estar das pessoas e o consenso têm prioridade e o espírito humano deve ser liberto da avareza e dos dogmas. Oportunidades devem surgir igualmente entre todos. Reconciliação, reunir-se em comunidades para experienciar o crescimento partilhado são os objetivos finais.

O Greenpeace, a ecologia profunda, os movimentos pacifistas, governos assistencialistas, grupos voluntários e entidades sem fins lucrativos são exemplos de um estilo que prioriza a ORDEM IGUALITÁRIA e o VÍNCULO HUMANO.

AMARELO – flexibilidade e funcionalidade: surgido há 50 anos, este nível de consciência tem como ponto central a adaptação flexível às mudanças. Devemos ser responsáveis pelo que somos e o que aprendemos a ser. A beleza da existência deve ser valorizada acima das posses materiais. Flexibilidade, espontaneidade e funcionalidade têm prioridade máxima. Conhecimento e competência deveriam substituir posição, poder e estatuto. As diferenças podem ser integradas em fluxos interdependentes e naturais. No estilo amarelo, o indivíduo deve aprender a ser livre e questionar.

O nível de consciência amarelo está presente nas organizações de Peter Senge, no pensamento integral de Ken Wilber, nas empresas que aliam alta produtividade com eficiência, eficácia e qualidade de vida. O ponto central deste nível de consciência é o FLUXO FLEXÍVEL e o EU INTEGRADO.

TURQUESA – visão global, vida e harmonia: surgido há 30 anos, o “Turquesa” se define pela experiência do todo da existência pela mente e pelo espírito, tendo a concepção que o mundo é um único organismo dinâmico com sua própria mente coletiva. O eu é distinto e ao mesmo tempo parte integrante de um todo maior, energia e informação atravessam o total ambiente da terra.

O “Turquesa” está presente nas idéias de Gandhi, no “Espectro da Consciência” de Ken Wilber, na hipótese de Gaia, no pensamento de Teilhard de Chardin, onde o objetivo crucial é PROCURAR A ORDEM sob o caos aparente da Terra.”

Por Moacyr Castellani